Intervenção grupal com mulheres cuja gravidez decorreu de violência sexual: uma leitura construcionista social

Authors

  • Silvia Renata Magalhães Lordello UnB
  • Liana Fortunato Costa UnB

Keywords:

gravidez, maternidade, violência sexual, intervenção grupal

Abstract

O artigo aborda uma proposta de in-
tervenção grupal com mulheres que tiveram suagestação decorrente de violência sexual. Como
uma configuração familiar contemporânea, a
complexidade das famílias que surgem nestecontexto requer um estudo de suas peculiari-
dades. O referencial Construcionista Social foiadotado na compreensão do conteúdo conver-
sacional surgido no grupo, que abordou temá-ticas sugeridas pelas participantes para discutir
aspectos relacionados à maternidade. A análise
desses achados apontou quatro categorias, asquais envolveram: os impactos da violência so-
bre a gravidez, o processo de se tornar mãe, aseparação entre agressor e bebê e o grupo comoespaço de compartilhamento. A intervenção gru-
pal foi um espaço coletivo para elaboração devivências traumáticas e foi visto como positivopelas participantes. A construção social de gêne-
ro possibilitou a crítica ao papel materno estereo-
tipado e a problematização sobre a naturalizaçãoda violência sexual como prerrogativa masculina.
Concluiu-se que as participantes compreendem a
maternidade como um processo em construção,
permeado de desafios.

Downloads

Download data is not yet available.

Author Biographies

Silvia Renata Magalhães Lordello, UnB

Psicóloga, Doutora
em Psicologia Clínica
e Cultura, Programa
de Pós-Graduação em
Psicologia Clínica e
Cultura (PPGPSICC/UnB).

Liana Fortunato Costa, UnB

Psicóloga, Doutora
em Psicologia Clínica,Programa de Pós-
Graduação em PsicologiaClínica e Cultura
(PPGPSICC/UnB).

References

Andersen, T. (1999). Processos reflexi-

vos. Rio de Janeiro: Noos.

Anderson, H. (2011). Uma perspectiva

colaborativa sobre ensino e apren-

dizado: A criação de comunidades

de aprendizado. Nova Perspectiva

Sistêmica, 41, 35-53.

Anderson, H. (2012). Collaborative

relationships and dialogic conver-

sations: ideas for a relationally re-

sponsive practice. Family Process,

(1), 8-24.

Anderson, H. & Goolishian, H. (1998).

O cliente é o especialista: a abor-

dagem terapêutica do não saber. In

S. McNamee & K. J. Gergen (Eds.),

A terapia como construção social

(pp. 34-50). Porto Alegre: Artes

Médicas.

Aquino, F. S. B. & Salomão, N. M. R.

(2011). Percepções maternas acerca

das habilidades sociocomunicativas

de bebês. Psicologia: Ciência e Pro-

fissão, 31(2), 252-167.

Arrais, A. da R. & Araujo, T. C. C. F.(2016).

Pré-Natal Psicológico: perspectivas

para atuação do psicólogo em Saúde

Materna no Brasil. Revista da SBPH

(1), 103-116.

Azevedo, K. R. & Arrais, A. R. (2006).

O mito da mãe exclusiva e seu im-

pacto na depressão pós-parto. Psi-

cologia: Reflexão e Crítica, 19(2),

-276.

Barbier, R. (2007). A pesquisa-ação.

Brasília, DF: Liber Livro Editora.

Bandeira, L. M. (2014). Violência de

gênero: a construção de um cam-

po teórico e de investigação. Socie-

dade e Estado, 29(2), 449-469. doi:

https://dx.doi.org/10.1590/

S0102-69922014000200008

Barbosa, M. B. & Guanaes-Lorenzi, C.

(2015). Sentidos construídos por

familiares acerca de seu processo

terapêutico em terapia familiar. Psi-

cologia Clínica, 27(2), 15-38.

Boscolo, L. & Bertrando, L. (2012). Te-

rapia sistêmica individual: Manual

prático na clínica. Belo Horizonte:

Artesã.

Cantelmo, C. A., Cavalcante, T. P., &

Costa, L. F. (2011). A menina mãe:

incesto e maternidade. Fractal,

(1), 137-154.

Carrijo, R. S. & Rasera, E. F. (2010).

Mudança em psicoterapia de grupo:

reflexões a partir da terapia narra-

tiva. Psicologia Clínica, 22(1), 125-

https://dx.doi.org/10.1590/

S0103-56652010000100008

Costa, L. F. (2010). A perspectiva

sistêmica para a Clínica da Fa-

mília. Psicologia: Teoria e Pes-

quisa, 26(n. esp.), 95-104. doi:

https://dx.doi.org/10.1590/

S0102-37722010000500008

Costa, P. R., Grossi, M. P., & Macarro, M.

J. M. (2016). Não dói o útero e sim

a alma: a violência sexual que fere,

que mata, que dilacera as mulheres

do Brasil. Caderno Espaço Femini-

no, 29(2), 124-149. doi: 10.14393/

CEF-v29n2-2016-9

Decreto Lei n. 2848, de 07 de dezem-

bro de 1940. (1940). Da aplicação

da Lei penal. Recuperado de http://

www2.camara.leg.br/legin/fed/de-

clei/1940-1949/decreto-lei-2848-

-7-dezembro-1940-412868-publi-

cacaooriginal-1-pe.html

Féres-Carneiro, T. (2009). Casal e famí-

lia: permanências e rupturas. Rio de

Janeiro: Casa do Psicólogo.

Féres-Carneiro, T. & Ponciano, E. T.

(2005). Articulando diferentes en-

foques teóricos na terapia familiar.

Revista Interamericana de Psicolo-

gia, 39(3), 439-448.

Gergen, K. J. & Gergen, M. (2010).

Construcionismo social: Um convite

ao diálogo. Rio de Janeiro: Instituto

Noos.

Grandesso, M. (2009). Desenvolvi-

mentos em terapia familiar: das

teorias às práticas e das práticas às

teorias. In L. C. Osório & M. E. P.

Valle (Eds.), Manual de terapia fa-

miliar (p. 104-118). Porto Alegre:

Artes Médicas.

Grandesso. M. A. (2012). Mapas da prá-

tica narrativa. Nova Perspectiva Sis-

têmica, 44,105-107.

Grattagliano, I., Owens, J. N., Morton,

R. J., Campobasso, C. P., Carabelle-

se, F., & Catanesi, R. (2012). Female

sexual offenders: Five Italian stud-

ies. Aggression and Violent Behav-

ior, 17(3), 180-187. doi: 10.1016/j.

avb.2012.01.001.

Habigzang, L. F., Ramos, M., & Koller,

S. H. (2011). A revelação do abuso

sexual: Medidas adotadas pela rede

de apoio. Psicologia: Teoria e Pes-

quisa, 27(4), 467-473. doi: 10.1590/

S0102-37722011000400010

Joffily, S. M. L. C. & Costa, L. F. (2006).

Significações dadas à gravidez por

adolescentes grávidas. In M. A. Ri-

beiro & M. H. Freitas (Eds.), Psico-

patologia, processos de adoecimento

e promoção de saúde (pp. 245-284).

Brasília: Universa.

Lima, C. A. & Deslandes, S. F. (2014).

Violência sexual contra mulheres

no Brasil: Conquistas e desafios

do setor saúde na década de 2000.

Saúde e Sociedade, 23(3), 787-800.

doi: http://dx.doi.org/10.1590/

S0104-12902014000300005

Lordello, S. R. & Costa, L. F. (2014).

Gestação decorrente de violência

sexual: um estudo de caso à luz do

modelo bioecológico. Contextos Clí-

nicos, 7(1), 94-104.

Machado, L. Z. (2010). Feminismo em

movimento. São Paulo: Francis.

Marra, M. M. (2014). El construccio-

nismo social como abordaje teóri-

co para La comprensión del abuso

sexual. Revista de Psicologia (Lima),

(2), 220-242.

Marra, M. M. (2016). Conversas cria-

tivas e abuso sexual: Uma proposta

para o atendimento psicossocial. São

Paulo: Ágora.

Marra, M. M., Omer, H., & Costa, L. F.

(2015). Cuidado Vigilante: Diálogo

construtivo e responsabilidade re-

lacional em contexto de violência

sexual. Nova Perspectiva Sistêmica,

, 77-91.

Mayer, L. R. & Koller, S. H. (2012).

Rede de apoio social e representa-

ção mental das relações de apego

de crianças vítimas de violência

doméstica. In L. F. Habigzang & S.

H. Koller (Eds.), Violência contra

crianças e adolescentes: teoria, pes-

quisa e prática (pp. 11-280). Porto

Alegre: Artmed.

McNamee, S. (2001). Reconstruindo a

terapia num mundo pós-moderno:

recursos relacionais. In M. Gon-

çalves & O. Gonçalves (Eds.), Psi-

coterapia (pp. 235-264). Coimbra:

Quarteto.

Meneses, F. F. F., Stroher, L. M., Setú-

bal, C. B., Wolff, L. S., & Costa, L.

F. (2016). Intervenção psicossocial

com o adulto autor de violência

sexual intrafamiliar contra crian-

ças e adolescentes. Contextos Clí-

nicos, 9(1), 98-108, doi: 10.4013/

ctc.2016.91.08

Minayo, M. C. S. (2010). O desafio do

conhecimento: Pesquisa qualitativa

em saúde. São Paulo: Hucitec.

Moreira, M. I. C., Bedran, P. M., & Ca-

rellos, S. M. S. D. (2011). A famí-

lia contemporânea brasileira em

contexto de fragilidade social e os

novos direitos das crianças: desa-

fios éticos. Psicologia em Revista,

(1), 161-180.

Moreira, G. A. R., Soares, P. S., Farias, F.

N. R., & Vieira, R. J. E. R. (2015). No-

tificações de violência sexual contra

a mulher no Brasil. Revista Brasi-

leira de Promoção de Saúde, 28(3),

-336.

Nogueira, C. (2001). Contribuições do

construcionismo social a uma nova

psicologia do gênero. Cadernos de

Pesquisa, 112, 137-153.

Nunes, M. & Morais, N. A. (2016) Vio-

lência sexual e gravidez: percepções

e sentimentos das vítimas. Revista

SPAGESP 17(2), 21-36.

Pantoja, A. L. N. (2003). “Ser al-

guém na vida”: uma análise

sócio-antropológica da gravidez/

maternidade na adolescência, em

Belém do Pará, Brasil. Cadernos de

Saúde Pública, 19(2), 335-343.

Paula-Ravagnani, G. S., McNamee, S.,

Rasera, E. F. & Guanaes-Lorenzi, C.

(2016). O discurso construcionista

social na prática clínica de terapeu-

tas familiares. Psicologia em Estudo,

(2), 267-278.

Paschoal, V. N., & Grandesso, M. (2014).

O uso de metáforas em terapia nar-

rativa: Facilitando a construção de

novos significados. Nova Perspecti-

va Sistêmica, 48, 24-43.

Porto, M. & Bucher-Maluschke, J. S.

N. F. (2010). Violência, mulheres e

atendimento psicológico na Ama-

zônia e no Distrito Federal. Psico-

logia em Estudo, 17(2), 297-306.

doi: http://dx.doi.org/10.1590/

S1413-73722012000200013

Piccinini, C. A., Gomes, A. G., Moreira, L.

E., & Lopes, R. S. (2004). Expectati-

vas e sentimentos da gestante em re-

lação ao seu bebê. Psicologia: Teoria

e Pesquisa, 20(3), 223-232.

Rasera, E. F. & Guanaes, C. (2010).

Momentos marcantes na cons-

trução da mudança em tera-

pia familiar. Psicologia: Teoria e

Pesquisa, 26(2), 315-322.

Rasera, F. E. & Japur, M. (2007). Grupo

como construção social: Aproxima-

ção entre construcionismo social e

terapia de grupo. São Paulo, Brasil:

Vetor.

Wagner, A., Tronco, C., & Armani, A.

(2011). Os desafios da família con-

temporânea: Revisando conceitos.

Porto Alegre: Artmed.

White, M. (2002). Reescribir la vida: en-

trevistas y ensayos. Barcelona, Espa-

nha: Gedisa.

Published

2017-12-21

How to Cite

Lordello, S. R. M., & Costa, L. F. (2017). Intervenção grupal com mulheres cuja gravidez decorreu de violência sexual: uma leitura construcionista social. Nova Perspectiva Sistêmica, 26(59), 52–70. Retrieved from https://revistanps.emnuvens.com.br/nps/article/view/316

Issue

Section

Artigos